E ele disse que não ia tocar mais nas próximas décadas. E que ia ser um advogado brilhante e ficaria rico com isso. Mas um advogado brilhante não é um astro do rock.
Ele disse que não ia tocar mais nas próximas décadas...ele disse...
Não consigo parar de pensar nisso. Será que eu sou quem achei que seria aos 14 anos? E será que aos 50 eu vou ter sido quem eu quero ser hoje? Será que vou abrir mão dos meus ideais por praticidade? Será que já não abro a cada dia?
Eu acredito que sonhos não são mutáveis. Apenas são esquecidos. Se você queria ser bailarina aos cinco anos, aos setenta vai querer ter sido bailarina. E acho que a sensação mais desesperadora do mundo deve ser perceber que não se tem mais tempo. Que não se pode mais nada.
É claro que as coisas mudam. Eu queria mudar o mundo. Achava que faria isso com a cara pintada e arma em punho. Hoje eu quero abrir uma escola.
Eu queria ser digna de ser ouvida e ter meu espaço no mundo. Pensava que só porque tinha dezessete anos e algumas espinhas eu teria esse direito. Hoje eu aprimoro minha cultura, que me dá base para argumentar sobre o que me interessa.
Eu queria ter 10 filhos. Mas já estou me contentando com 2 e alguns afilhados.
Enfim, o que eu quero dizer, é que os sonhos podem ser trabalhados para serem concretizados de outras formas. Mas de maneira alguma podem ser esquecidos. Não acho que ninguém queira carregar a culpa de não ter sido feliz por completo.
Não acho que ele possa parar de tocar...