Eu estou escrevendo depois do natal, eu sei. Bom, imagino que você não receba muitas cartas nessa época, então é mais fácil ler a minha. Eu venho escrevendo nos últimos 3 anos e você não apareceu, mas eu sei que não foi por mal. Os correios nem sempre sobem aqui para buscar as cartas, e além do mais, ano passado, por exemplo, não estava muito seguro voar por aqui.
Mas agora está tudo mais calmo e você não tem mais tanto trabalho. Então, vamos à minha cartinha.
Eu fui um bom menino o ano todo. Cuidei dos meus irmãos, me formei na 3a série sem nem prova final! A tia disse que foram as melhores notas da turma. Mais da metade da minha sala desistiu depois daquela semana que a escola foi invadida, o senhor ficou sabendo? Mas eu continuei até terminar.
Eu cuidei dos meus irmãos todo dia quando a mãe foi trabalhar. Aliás, a mãe também tá feliz comigo. Eu não falei mais daquele assunto com ela. As vezes, eu vejo um moço na rua, acho que ele parece comigo e penso: será que é ele? - mas não falo mais. Não sei porque, mas ela ficava muito chateada.
Eu fui à missa quase todo domingo. Não deu pra ir em todo, porque domingo que tinha jogo importante, eu ia vender umas bandeiras lá perto do Maracanã. Minha mãe diz que se não fosse por isso, a Thayssa tinha morrido daquela febre esquisita que ela tinha e o hospital não dava remédio. Mas a mãe conseguiu comprar.
Eu não briguei com os outros meninos e tomei banho todos os dias. Menos 2. Mas todos os outros, juro.
Bom, eu acho que eu mereço um presente esse ano, né? O Wesley disse que você não existe. Mas eu sei que é mentira. E que você é muito bonzinho e vai me trazer o presente esse ano.
Se você for amigo do Jesus, fala que eu mandei os parabéns pra ele, tá?
Ah! Já ia me esquecendo! Eu quero de presente um panetone. Mas eu prometo que vou dividir com a mãe e os irmãos, tá?
Um beijo! Te amo, Papai Noel.
Wellington